Capítulo 11 -” Um solitário no meio da multidão”

      O título do capítulo faz referência a uma frase constantemente utilizada para explicar a diferença entre estar sozinho e se sentir sozinho ou solitário. O assunto será abordado neste capítulo. Alice percebe que ela tem uma visão de mundo diferente da visão do Rafa. E você? Concorda com esse ponto de vista da Alice?

Boa leitura! 

Dani ;*

            Um link que aborda o assunto: Estar sozinho e se sentir sozinho

A campainha tocou, me arrancando dos meus devaneios. Agora eu poderia ver quem era através das câmeras externas do circuito de segurança. Eu poderia ver na televisão do escritório sem precisar correr até a sala. 

Oh, meu Deus! O que o Rafael estava fazendo aqui na porta numa hora dessas? 

Sorte que estava limpa e de banho tomado e não descabelada parecendo uma louca, pois é assim que fico quando resolvo fazer uma faxina ou decido me aventurar em pintar as paredes da garagem, por exemplo.

Corri até o interfone e perguntei o que ele estava fazendo aqui antes mesmo de destravar o portão.

-Vai mesmo me deixar aqui do lado de fora? 

Queria insistir na pergunta, mas fiquei com dó em deixá-lo lá fora. 

-Destravei o portão, é só empurrar! 

A casa ainda estava toda bagunçada devido à festa de ontem. Não dava tempo de limpar. Ele bateu na porta da frente e só tive tempo de levar algumas taças para a pia, antes de poder abrir.

-Oi! Feliz Natal! 

Quando eu iria me acostumar com a sua presença, reaproximação e essa nossa ligação tão íntima e recente? 

-Feliz Natal! – mal consegui falar, hipnotizada pelo seu sorriso.

Se aproximou vagarosamente e me beijou, fechando a porta atrás de si. Envolvi os meus braços sobre os seus ombros largos enquanto ele me conduzia para dentro da sala.

Ao descolarmos os lábios, olhei para o seu rosto e notei o quanto estava se controlando para não ultrapassar os limites da razão. Ele não avançaria, mas não sei até quando iria esperar. Talvez esperasse que eu falasse que estava pronta. Não sei…

-Vim passar o dia inteiro com você.

-Hã? Como assim?- afastei o rosto, surpresa.

-Passar o dia ao seu lado. Por que? Tem algum problema? Você não quer? – franziu a testa, confuso e com um sorriso incerto nos lábios.

-Não! Não é isso… É que talvez a Claire e o Daniel apareçam mais tarde.

– E o quê que tem a ver? O que você está planejando nessa cabecinha? Alguma coisa imprópria? – perguntou com um tom travesso na voz.

-Claro que não!- dei-lhe um tapinha no ombro, tentando me manter séria.

-Liguei pra Claire e…

-Você fez o quê???- quase gritei.

-Nada! Apenas liguei e disse para não se preocupar, que a sobrinha favorita dela ia passar o dia comigo.

-Você não está falando sério, né? -quase infartei.

– E por que eu mentiria?- e logo falou com ironia: – Ahhh…eu não sabia que ela já sabia sobre nós. Ela nem ficou tão surpresa. Pelo contrário, ela deu a maior força.

Fiquei vermelha, sem saber onde enfiar a cara. E ele piorava ainda mais, continuando a falar:

-Eu não sabia que eu era um assunto muito comentado aqui nessa família.- brincou e me abraçou por trás, encostando o seu rosto no meu.

– E não é. Você se acha demais! Vou deixar claro que isso sempre foi brincadeira da Camila com a Claire pra me provocar.

Virei pra ver o seu rosto e vi o quanto ele se divertia em me fazer corar e ficar sem jeito. 

-Hummm… Então além da torcida da Claire, eu também sou o favorito da cunhadinha?- e me fez cócegas. 

-Para, Rafa! – tentei me defender sem sucesso, pois ele era mais forte e rápido. -Para, é sério! 

E pra finalizar, acabou por me derrubar no tapete da sala. 

Descobriu que tenho cócegas e agora queria me matar de rir. Era tanto ataque que perdi o fôlego até que ele parou, exausto.

Fiquei olhando pro teto, procurando respirar o máximo de ar que podia. 

-Camila…- comecei a falar, ainda arfando- …a Camila não sabe de nada. Assim com a Claire também não sabia, até você dar essa bandeira toda falando que passaria o dia aqui. 

Caramba! Eu estava ofegante! 

-Adoro ouvir a sua risada- confessou e virei para o lado e nos encaramos. 

-Se quiser ouvir minha risada, encontre um outro jeito que não me mate… Quase morri agora. Por favor,nada de cócegas! 

– Claro que não! Por hoje eu não me arriscaria mais em te cutucar. Porque senão vão me perguntar qual foi o felino selvagem que me arranhou.

-Hã? -demorei pra entender sobre o que ele estava falando. Olhei para os seus braços e estes estavam cheios de arranhões vermelhos. Instintivamente, toquei na sua pele. Me senti péssima. -Me desculpa! Nossa, eu não tinha percebido que te machuquei. Desculpa! – me sentei enquanto ele permanecia deitado.

-Ei! Não precisa ficar com essa carinha preocupada! Aliás, se quer saber,nem doeu! Mas bem que eu preferiria esses arranhões nas costas,se é que me entende…

Não acredito que ele levou a conversa pra esse lado. Que safado! 

-Seu indecente! – bati no seu peito. 
Rafael sentou e flexionou o joelho,onde apoiou o braço. Ele ficou com um semblante sério. 

-Ia mesmo passar o dia inteiro aqui sozinha, esperando uma possível visita da Claire?

Aquela mudança repentina de humor e a seriedade na sua voz, me chamou a atenção. 

-Não sei! Já fiz tantas coisas hoje… Não programei muito o dia de hoje. Pensei até em te chamar pra caminhar na praia, no finalzinho da tarde… Eu não te disse ontem que nos veríamos hoje?

-Pensou mesmo?-seu rosto logo se iluminou com um sorriso. 

-Sim, pensei! Mas por que a pergunta sobre ficar sozinha?

-Não…é só que não consigo imaginar passar um dia em silêncio,sozinho… Acho isso angustiante.

-Mas ficar sozinho não significa necessariamente ficar em silêncio absoluto. – fez uma cara confusa e logo percebi que eu tinha que explicar melhor:-Digo…é… não ter alguém por perto te dar a liberdade de fazer o que quiser, as loucuras que quiser sem se preocupar com o que vão pensar de você.

-Por exemplo…

-É… você pode testar uma receita nova daqueles sites de culinária, cantar bem alto no chuveiro e fingir que o frasco de xampu é um microfone…

Rafael soltou uma gargalhada tão vibrante e espontânea, que sorri junto.

-É sério! Também pode pular na cama ou no sofá, aprender uma coreografia de algum cantor pop. 

-Nunca imaginei você fazendo isso, mas depois que falou, eu posso imaginar. Mas isso não é solidão! Isso possui um nome totalmente diferente. E é bagunça! Alice, você é uma bagunceira! -me acusou, se divertindo.

– Não falei que isso era solidão. Eu disse que essas são as coisas que se pode fazer sozinho. Solidão é uma coisa totalmente diferente. As pessoas se confundem muito… – Rafael prestava toda atenção nas minhas palavras -Solidão é como se fosse um estado de espírito,sei lá. Por exemplo: às vezes uma pessoa pode estar  rodeada de pessoas e ao mesmo tempo se sentir vazio, solitário… porque pra ela, estar ali não faz sentido algum.  

– Talvez eu nunca parei pra pensar nisso porque toda vez que eu sabia que ia ficar em silêncio e só, eu procurava alguma coisa pra interagir. – ficou pensativo.

– Ei!- chamei sua atenção. – Vamos sair? Ver o sol se pôr? Aproveito e levo a minha câmera nova pra estrear! 

Rafael logo se animou e se levantou. Em pé, ofereceu a mão para que eu segurasse e me levantasse. Eu sabia que ele aproveitaria aquela oportunidade para me beijar, então decidi surpreende-lo, dando-lhe um beijo.

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